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Mães, estudantes e trabalhadoras na resistência pela permanência universitária

Data de Publicação: 14/03/2025

Thamisa Rodrigues transforma a realidade de mães universitárias com a criação da Sala de Acolhimento Parental

A universidade pública sempre foi um espaço de disputa, e para as mulheres, especialmente as mães, essa batalha se estende para além das salas de aula. Entre livros, prazos acadêmicos e noites mal dormidas, elas enfrentam uma estrutura excludente que parece ignorar suas existências. No Campus do Sertão da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a resistência tomou forma concreta: a Sala de Acolhimento Parental (SAP). A técnica em Assuntos Educacionais Thamisa Rodrigues foi a responsável por sua criação, um espaço pensado para garantir que a maternidade não fosse um impeditivo para a vida acadêmica.

A trajetória de Thamisa é marcada pelo compromisso com a educação e a assistência estudantil. Formada em Pedagogia pela UFS, ingressou no serviço público inicialmente no extinto Ministério da Fazenda, mas logo retornou à universidade, agora como técnica, para atuar diretamente no apoio aos estudantes. Seu olhar atento logo percebeu um problema estrutural: a falta de suporte para as mulheres que tentavam conciliar a maternidade com a graduação. "Elas tinham que trazer os bebês para a universidade sem qualquer infraestrutura de apoio. Não havia sequer um fraldário. Começamos improvisando salas vazias para atender essa demanda, até que surgiu a necessidade de um espaço fixo", relembra.

A criação da Sala de Acolhimento Parental, contudo, não foi um processo simples. Implementada em 2024, a iniciativa surgiu de um esforço coletivo, sem verbas específicas. Cada móvel, cada item de infraestrutura foi obtido por meio de realocações e doações de servidores e da própria gestão do campus. "Não houve compra de equipamentos. Foi uma construção baseada na solidariedade e na luta por direitos", explica Thamisa. 

O envolvimento direto de uma mulher à frente desse projeto foi determinante, pois somente alguém que compreendesse, na prática, os desafios da maternidade na universidade poderia conduzir uma iniciativa com esse impacto.

O Brasil ainda engatinha na implementação de políticas de permanência para mães no ensino superior. Sem apoio adequado, muitas mulheres abandonam a universidade, interrompendo seus sonhos e reforçando a exclusão de gênero no ambiente acadêmico. 

Thamisa vê na SAP um modelo que pode ser replicado em outras instituições. "Fui convidada para compartilhar a experiência no Instituto Federal de Sergipe e no Instituto Federal de Alagoas. Mas dentro da própria UFS ainda não houve procura de outras unidades para implementar iniciativas semelhantes. Isso mostra como a pauta da maternidade ainda é invisibilizada dentro da universidade", avalia.

A resistência a essas pautas tem raízes profundas. "A academia ainda é um espaço patriarcal, onde temas como a maternidade são vistos como secundários. Há pesquisas de alto impacto social na universidade, mas questões do cotidiano das mulheres, como o cuidado, seguem à margem", critica. A ausência de políticas institucionais específicas agrava esse cenário. "Hoje, por exemplo, não temos dados sobre quantas estudantes mães existem na UFS. Como formular políticas de permanência sem sequer saber quem são essas mulheres?", questiona.

Além da maternidade, há outros marcadores sociais que atravessam as trajetórias das mulheres na universidade. Negras, periféricas, LGBTQIA+, com deficiência – todas enfrentam barreiras que vão além das dificuldades acadêmicas. "A assistência estudantil precisa ser um canal de acolhimento real, garantindo que a universidade seja, de fato, plural, democrática e inclusiva para todas", defende Thamisa.

Para ela, reconhecer o trabalho das mulheres nesses espaços também é uma forma de transformação social. "As mulheres são invisibilizadas em todas as áreas, e na universidade não é diferente. Quando falamos de assistência estudantil, de permanência, de cuidado, estamos falando de temas políticos. O que conquistamos hoje foi fruto da luta de muitas que vieram antes de nós, e nossa responsabilidade é continuar abrindo caminhos", afirma.

No mês de março, quando as lutas das mulheres ganham ainda mais visibilidade, a trajetória de Thamisa é um lembrete da força coletiva. "Espero que meu trabalho inspire outras mulheres a reivindicarem seus espaços, a exigirem direitos e a nunca desistirem dos seus sonhos", conclui.

A universidade ainda não é um espaço plenamente acessível para todas, mas cada iniciativa como a Sala de Acolhimento Parental é um passo para transformar essa realidade. Afinal, educação e maternidade não deveriam ser escolhas excludentes – deveriam ser direitos garantidos.