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Ser mãe, ser TAE, ser resistência: o assédio não nos cala

Data de Publicação: 09/05/2025

Que nome damos quando o local de trabalho nos adoece em silêncio, sem deixar hematoma visível?

Chamam de exigência, travestem de eficiência, mas sabemos: é violência. Chamam de perfil inadequado, mas é retaliação. Chamam de clima organizacional, mas é opressão vestida de burocracia. 

Alegam que nossas dores são "mimimi", quando na verdade são cicatrizes de um sistema que nos quer caladas.

No fechamento desta série, não cabe gentileza. Não cabe eufemismo. O que se naturalizou nas instituições públicas, inclusive nas universidades, tem nome: assédio. Moral, sexual, organizacional. Sempre político. Sempre perverso. E quase sempre impune.

A pesquisadora Gabriela Lotta apontou, com precisão, uma prática cada vez mais comum nos governos autoritários: o uso do assédio como ferramenta para enfraquecer o serviço público. Ao desgastar servidores emocional e psicologicamente, minam-se as políticas públicas desde a base. Foi exatamente isso que ocorreu no governo Bolsonaro. Os ataques não foram apenas verbais ou administrativos. Foram profundos, silenciosos, contínuos. Eram feitos para deslegitimar o servidor e sua capacidade de defender o Estado Democrático de Direito.

Mas o assédio não se sustenta sozinho. Ele precisa da conivência institucional. E é no setor público que ele mais se prolonga, como mostra a pesquisadora Margarida Barreto desde 2005. Servidores, por medo, por esperança ou por falta de alternativas, resistem em denunciar. Agarram-se ao concurso conquistado com tanto esforço, acreditam que a chefia vai mudar, esperam que as relações melhorem. Enquanto isso, adoecem. Em silêncio. Isolados.

Na UFS, como em tantas outras, são técnicas, mulheres, mães, negras, LGBTQIAPN+, com deficiência, que seguem sendo alvos preferenciais de quem detém o poder. São elas que ouvem gritos nas salas fechadas, que são isoladas de grupos, que viram piadas nos corredores. São elas que recebem advertências por questionar chefias. São elas que se calam com medo e/ou para não perder o pouco que têm.

Mas nenhuma opressão sobrevive sem a conivência de uma estrutura. E é disso que se alimenta o assédio institucional: de parecer normal.

A escala de seis dias por um de descanso, mesmo não aplicada diretamente a TAEs, ilustra bem o tipo de lógica que se espalha nos ambientes públicos: a produtividade acima da dignidade. A vigilância no lugar da confiança. O controle no lugar da escuta.

Não é coincidência que o direito à jornada de 30 horas seja tratado com descaso por tantas administrações. Ele fere o projeto autoritário que insiste em transformar, sobretudo, a servidora em máquina.

Mas não seremos massa de manobra. Nem exceção. Nem número mais um número na lista das assediadas.

Seremos vozes de denúncia, enfrentamento, resistência e mudança!

Se essa série começou com relatos de dor, ela se encerra com compromisso de luta. Porque o assédio não vai acabar com campanhas institucionais, nem com frases de efeito. Ele vai acabar quando o medo mudar de lado. Quando quem oprime for responsabilizado. Quando cada TAE souber que não está só.

O Sintufs segue do lado de quem resiste. Com palavras, com mobilização e com enfrentamento direto.

Porque nenhuma mulher deve aceitar o assédio como parte do trabalho.
Porque nenhuma servidora deve adoecer em nome da hierarquia.
Porque há corpos que não cabem mais nesse expediente!