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REPORTAGEM

O guardião do auditório: a vida e a vida de Libório Firmo de Castro Silva

Data de Publicação: 17/06/2021

Em sessão histórica, Conselho Superior da UFS nomeia auditório da Reitoria em homenagem ao seu principal guardião

 

Por Henrique Maynart

Gostaria de quebrar o protocolo e puxar uma salva de palmas para o nosso colega Libório”. Segunda-feira, 14 de junho de 2021. Na Sessão Virtual nº 21 do Conselho Superior da Universidade Federal de Sergipe, a conselheira Bryanne Araújo quebra o protocolo às 15 horas e 58 minutos, seguida por 30 segundos das palmas de seus pares em saudação virtual. Homenagem dada e cumprida.

Libório na sua labuta em 2019. Ascom Sintufs
Libio na sua labuta em 2019. Ascom Sintufs

O Projeto 23113.017069/2021-41, que nomeia o auditório lotado na Reitoria para LIBÓRIO FIRMO DE CASTRO SILVA, partiu de uma proposta do Sintufs em Assembleia Geral da categoria, ocorrida no dia 28 de abril. Aprovado por aclamação, o projeto homenageia o técnico em Audiovisual responsável pelo auditório da UFS por décadas de atividades, bancas, apresentações, colações de grau e tudo que o concreto acinzentado da Reitoria foi capaz de testemunhar.

 “Demorará um tempo até nos acostumarmos com a ideia de que ele não estará mais no primeiro andar, em sua sala, regulando o áudio ou vídeo das apresentações, disponibilizando os microfones, ajustando cada detalhe com seu profissionalismo ímpar,” afirma o parecer aprovado por aclamação.

Sessão do Consu em 14 de junho de 2021. Ascom Sintufs
Sess do Consu em 14 de junho de 2021. Ascom Sintufs

SERVIDORES INVISÍVEIS

A homenagem a Libório vai de encontro a um fenômeno bem sentido na Educação Pública brasileira: a invisibilidade das trabalhadoras e trabalhadores técnico-administrativos no cotidiano das instituições.

 “A gente sabe que tem toda uma estrutura que invisibiliza o trabalho técnico-administrativo na UFS e até nisso o Libório foi revolucionário, porque agora ele vai ter em sua homenagem um dos prédios mais importantes da Universidade, que é o Auditório da Reitoria”, explica Fábio farias, coordenador do Sintufs.

 

DE PAI PRA FILHO

“Ele tinha uma vida dedicada à UFS, eu mesmo não me recordo dele faltar trabalho”. Nem as cinco horas de fuso impediram Thiago Silva, filho de Libório, de acompanhar a votação do Consu diretamente da Espanha.

 Às 21 horas no horário de Barcelona, Thiago ainda tinha as lágrimas represadas do velório proibido em junho de 2020, quando protocolos de isolamento frente à pandemia de Covid 19 impediram a merecida despedida do pai. “Ainda sofro muito com partida dele, a gente era muito amigo, conversava muito com ele todos os dias. Com a pandemia, eu não sou consegui acompanhar o velório e enterro dele. A gente agradece à UFS, à Reitoria e ao Sintufs”.

Thiago acompanhou a votação, direto de Madrid. Arquivo Pessoal
Thiago acompanhou a votao, direto de Madrid. Arquivo Pessoal

 A sessão do Consu também foi acompanhada por dona Josefa, mãe de Libório e assistente administrativa aposentada da UFS, e demais familiares que se manifestaram emocionados no chat do canal da UFS.

 

PATRIMÔNIO DA CATEGORIA

Gentil Melo, coordenador geral do Sintufs, conheceu Libório logo ao entrar no curso de Ciências Contábeis em 1985-2. Como estudante, ele se recorda do funcionário nas atividades acadêmicas do auditório. Ao retornar à UFS como técnico-administrativo, em 1994, a relação passou a ser de colega de trabalho que participava do futebol nas tardes de sábado, nas ações em defesa da categoria.

“Quando reservávamos o auditório para ações da categoria ele sempre foi bastante agradável, simpático, sempre nos ajudou. Ele nos dava dicas, nos orientava com muita discrição, sempre muito amigo de todos e todas...Também estava sempre presenta no nosso futebol , lá no Campus da UFS, que ele jogava na lateral direita. É como se as paredes do auditório fossem revestidas com ele, como se o som fosse um patrimônio dele.”

Gentil: Libório é patrimônio da categoria. Imagem: Ascom Sintufs
Gentil: Libio patrimio da categoria. Imagem: Ascom Sintufs

ENTRE O SONHO E O SOM

Funcionário da UFS desde 19 de setembro de 1979, Libório foi testemunha de milhares de atividades culturais e acadêmicas no estado, tanto nos teatros Maria Clara Machado e Juca Barreto, quanto no auditório da Reitoria do Campus São Cristóvão.

Dos primeiros sonoplastas na montagem de espetáculos de teatro, dança, cinema e música em Sergipe ainda na década de 1970 – dentre eles a apresentação do Ballet de Paris na capital sergipana – Libório cumpriu papel importante nas edições do Festival de Artes de Sã o Cristóvão (Fasc). Seu nome é destaque no Memorial do Teatro Sergipano, localizado no Teatro Lourival Batista.

Lindolfo Amaral: Ele era muito perfeccionista. Imagem: Governo de Sergipe
Lindolfo Amaral: Ele era muito perfeccionista. Imagem: Governo de Sergipe

Era muito perfeccionista. A sonorização dos espetáculos que se apresentavam nos Teatros Juca Barreto, Maria Clara Machado ou mesmo no Auditório do Colégio Paulo Sarasate, quando da realização do Fasc, tinha que funcionar perfeitamente.” Lindolfo Amaral, do Grupo de Teatro Imbuaça, não mede palavra para o perfeccionismo do colega nas décadas de convivência e montagem de espetáculos Sergipe afora.  

Placa no Memorial do Teatro Sergipano. Arquivo Pessoal
Placa no Memorial do Teatro Sergipano. Arquivo Pessoal

Às vezes os equipamentos não eram dos melhores, mas ele sempre dava um jeito para funcionar da melhor maneira possível. Durante o ofício ficava bastante concentrado, não gostava de brincar. Depois relaxava, ria bastante. Libório faz falta. As lembranças trazem um clima de saudades.”